Música recomendada:
The greatest - Lana Del Rey
ninguém avisa quando é a última vez. nem a vida.
aprendemos desde pequenos que sempre há uma nova chance, que sempre podemos tentar de novo. fomos mal naquela matéria da escola? tudo bem, se nos esforçarmos mais, vamos conseguir melhorar. desobedecemos nossa mãe e agora ela está brava? tudo bem, depois ela fica mais tranquila e podemos recomeçar. um amiguinho ficou bravo com a gente? amanhã ele esquece, e estamos brincando novamente.
mas ninguém avisa quando é a última vez.
de repente, não moramos mais na casa em que crescemos. não temos os mesmos amigos. não estudamos na mesma escola. então, aquela última brincadeira com seu amigo — onde vocês demoraram pelo menos 10 minutos para escolher qual jogo jogar, e depois passaram a tarde inteira brincando — acabou. e você nem percebeu. não houve nenhum sentimento de perda, ninguém te avisando para aproveitar bem o momento, ninguém dizendo que no dia seguinte tudo deixaria de existir.
e acontece assim, ao acaso.
vamos aprendendo, aos poucos, que tudo tem um fim. mas, por algum motivo — um motivo desconhecido, que não sei explicar —, continuamos vivendo como se fôssemos eternos. deixamos as conversas pra depois, os compromissos, os sonhos, as esperanças.
“depois vai ficar tudo bem.”
“depois melhora.”
“depois eu resolvo.”
mas um dia, todos os "depois" vão ser retirados de você como se arranca dente de criança.
a vida conta 1, 2… e não chega ao 3, por mais que você esteja esperando por ele, acreditando fielmente que ainda há mais um segundo para esperar.
de forma abrupta e à força — você querendo ou não —, a vida toma de você todos os seus planos, suas tarefas marcadas na agenda, todos os seus depois.
mas por que nos apegamos tanto à ideia de que sempre há um depois?
assistimos aquela série favorita pela milésima vez porque não aceitamos que ela acabou. que não haverá continuação. não importa quantas vezes você assista. e não importa o quanto diga que sabe que acabou — você fica ali, mergulhando no que já não existe mais. convencendo a si mesmo de que ainda possui aquilo, porque tem medo de olhar para as mãos e perceber que está segurando o vazio.
porque a vida é assim. passageira.
ela não é visitante, turista, exploradora. ela apenas passa. como quem passa olhando pra você do carro, como se tivesse te reconhecido de alguma forma. e você olha de volta, pensando que talvez a tenha reconhecido também. mas ela não para. não cumprimenta sua mão. não pergunta seu nome. não fala “te achei familiar”. não te chama pra tomar um café, jogar conversa fora.
ela. simplesmente. passa.
passa.
e talvez você fique revivendo esse momento infinitas vezes na cabeça. talvez escave na memória algum rosto que a lembre. talvez se pergunte de onde a conhece, ou de onde ela te conhece. mas ela não vai voltar. e vocês não se verão mais uma vez.
“vivemos como se nunca fôssemos morrer, e morremos como se nunca tivéssemos vivido.”
talvez a vida seja sobre isso:
sobre o luto de descobrir que não somos eternos. que um dia, o amanhã que tanto esperamos não vai existir. que aquela amizade de anos um dia vai acabar. que um dia não vamos mais trabalhar no mesmo emprego. ou morar no mesmo bairro. que um dia, o único rastro da nossa existência será o riso no rosto de alguém ao lembrar de uma piada boba que contamos. e que, depois, não haverá mais risos como esse — porque o depois dele também deixou de existir.
e se não tivermos mais uma segunda chance? e se a eternidade que tanto procuramos for só o medo de encarar que tudo é agora? e se a vida for pra ser assim mesmo — sem recomeço, sem depois?
não devíamos nos apegar a isso? nos apegar profundamente ao agora, como se ele estivesse, aos poucos, escorrendo por nossos dedos?
porque é assim.
quantas vezes já estivemos cara a cara com o fim de algo e nem percebemos? porque estávamos distraídos. alheios.
o que você faria diferente?
talvez tudo. talvez nada.
mas agora já foi.
e não vai voltar.
um dia, todos os “depois” vão ser arrancados como dente de criança. e você vai ter que aprender a mastigar com a ausência. com o vazio de todos os "depois" em que acreditou.
com carinho, de alguém que também achou que teria mais tempo.
Lentes de Neblina.
Lindo amg! Amei que você colocou recomendação de música 🖤 é muito doido pensar que vivemos muitas últimas vezes sem saber que eram as últimas né? Não me lembro a última vez que saí com aquela amiga, ou que conversei com aquela pessoa… quantas últimas vezes a gente perde no meio do caminho?